- Propaganda enganosa é o golpe mais frequente, correspondendo a 31% dos casos
- Para pesquisadores, maior parte dos brasileiros é descuidada e não se previne contra artimanhas
- Para 69% das vítimas, a culpa foi das empresas, que agiram de ma-fé para enganar o consumidor
- A diversificação dos meios de comunicação facilitou a vida dos fraudadores. Se antes eles precisavam encontrar pessoalmente com a vítima para aplicar o golpe, hoje com um clique eles enviam um torpedo sobre premiação falsa para milhares de pessoas. Por outro lado, há uma grande parcela da população que está sendo incluída digitalmente e ainda não sabe identificar um e-mail ou torpedo fraudulento - analisa o gerente financeiro do SPC, Flávio Borges.
O estudo também tentou estabelecer um perfil das vítimas. No entanto, os pesquisadores perceberam que não existem características determinantes entre os fraudados como idade, escolaridade e classe social, mas sim uma semelhança de atitude e comportamento entre eles.
Foi identificado que muitos deles nem sequer possuem plena consciência de que foram enganados. Quando perguntados se já foram vítimas de fato, apenas 28% dos pesquisados disseram que sim. Percentual bem menor do que o obtido quando os pesquisadores fizeram perguntas estimulando as situações de fraude (54%).
Para José Vignoli, educador financeiro do portal Meu Bolso Feliz, do SPC, muitos consumidores não têm conhecimento sobre os próprios direitos e sobre as obrigações que os fornecedores precisam cumprir.
- Em muitos casos, os consumidores são fraudados e acham que estão lidando com uma situação normal. Esse desconhecimento é grave, porque deixa o golpista impune, estimula novas práticas e dificulta a busca por um possível ressarcimento - avalia Vignoli.
Descuido aumenta chance de fraude
Os entrevistados foram agrupados em três grupos - de baixo, médio e alto risco - de acordo com a predisposição de cada um a correr perigo em situações simples do dia a dia como dirigir fora do limite de velocidade, ter ou não o hábito de passar antivírus atualizado no computador ou o costume de mudar as senhas de e-mail ou de cartões. Feito isso, a pesquisa mostrou que a maioria dos consumidores - entre vítimas e não vítimas - se divide entre pessoas de médio risco (40%) e alto risco (43%).
- Só 17% foram considerados consumidores de baixo risco. Isso indica que, no geral, o consumidor brasileiro tende a ter um comportamento pouco cuidadoso, o que, segundo o estudo, também aumenta a probabilidade dessa pessoa ser vítima de uma fraude - explica o gerente financeiro do SPC.
Propaganda enganosa é a mais comum
Os pesquisadores procuraram também identificar quais modalidades de fraude são mais frequentes entre as vítimas. Para isso, foram classificados 19 tipos diferentes de golpes, comumente encontrados no comércio, no setor de serviços, no sistema bancário e na internet.
O golpe mais citado pelos consumidores pesquisados foi a propaganda enganosa, com um em cada três casos (31%), seguida pela prática de entregar um serviço diferente do que foi inicialmente contratado, com 21% dos casos. Dificuldades de acionar a garantia após a compra de um produto e problemas com combustível adulterado aparecem na sequência da lista, com 12% e 10% dos casos, respectivamente.
Com um percentual de ocorrência inferior, aparecem as fraudes com cartão de crédito (5%) e o golpe da pirâmide financeira (5%). Na avaliação de Vignoli, as fraudes do sistema bancário (clonagem de cartão de crédito, de cartão de débito, roubo de senhas de banco etc) possuem um forte apelo midiático pelo fato de serem abordadas constantemente na mídia.
- Essa superexposição faz surgir um senso comum de que as fraudes bancárias são mais frequentes do que outros golpes que temos na praça, quando os números das pesquisas apontam justamente o contrário - explica.
Borges lembra que, ao ser vítima de golpes como roubo de dados pessoais, as chances de o golpista obter crédito, não honrar com o pagamento e deixar a dívida para a vítima é grande. Fato que leva muitos consumidores a terem o nome negativado no SPC.
Consumidores culpam empresas
Como uma forma de tentar entender por que o consumidor tinha sido alvo daquele golpe, os pesquisadores perguntaram para os entrevistados de quem teria sido a culpa por terem sido fraudados. Para 69% das vítimas, a culpa foi das empresas, que agiram de ma-fé para tentar enganar intencionalmente o consumidor. Por outro lado, 25% dos entrevistados se consideram os principais culpados pelo fato de terem sido ingênuos ou descuidados.
Vítimas de fraudes se tornam mais atentas
Os pesquisadores também concluíram que ser vítima de algum tipo de fraude tende a gerar uma mudança de comportamento. No geral, as pessoas que já foram alvo de golpes passam a ter atitudes mais cautelosas. No caso do golpe da propaganda enganosa, 95% dos consumidores disseram que mudaram a própria conduta e agora estão mais atentos diante de anúncios publicitários que oferecem oportunidades únicas a preços milagrosos.
A mesma coisa acontece com os consumidores que tiveram problemas com os termos de garantia de produtos: 67% dos entrevistados agora afirmam ler atentamente os contratos antes de assiná-los.
- Como vivenciar situações de fraude é ruim e traumático, é natural que o consumidor adote posturas diferentes diante de novos casos - conclui o gerente financeiro do SPC.
Fonte: O Globo Online
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