Buscando soluções No entanto, o fato de ser algo recorrente não significa que devemos considerar como normal. “Temos que assumir nossas responsabilidades e nossos atos. Nos endividamos excessivamente porque descuidamos das finanças. A culpa é nossa e só nós podemos impedir que a situação se agrave cada vez mais”, afirma Police. Para ele, nada é mais eficaz do que colocar, na ponta do lápis, os gastos e ganhos para evitar o endividamento.
O consultor afirma que o ideal é, mês a mês, parar para avaliar o orçamento e se questionar se os gastos são maiores ou menores que os ganhos, e se está se pagando muitos juros. “Avaliando todos os meses a pessoa vai perceber se a situação está saindo do controle e aí é hora de parar e cortar os gastos supérfluos. Não é uma coisa gostosa de fazer, ninguém gosta de constatar que tem um problema, que não está dando conta. Mas quanto mais se deixa passar, pior vai ficar. Então, embora seja dolorido, quanto antes identificar o problema, melhor. Os juros no Brasil são altíssimos e podem elevar uma dívida rapidamente”, revela Police.
Patrícia Santos é um exemplo. Não imaginava que os meses que ficou sem pagar o cartão de crédito, o cheque especial e o financiamento do carro popular, após ficar desempregada, resultariam em uma dívida de quase R$ 50 mil. “É muito difícil você descobrir que deve R$ 50 mil e não ter um patrimônio nesse valor. Não tinha ideia de que devia tanto até os avisos de cobrança começarem a chegar. Minha dívida era de roupas, passeios e o carro, que não custava mais do que R$ 20 mil, mas ainda não estava quitado. Não sei como cheguei a esse ponto sem perceber, mas sei que os juros ajudaram bastante. Precisei pegar empréstimos de familiares, vender o carro, e paguei primeiro o que cobrava mais juros”, conta a publicitária.
Hábitos perigosos Além de observar e avaliar atentamente os gastos, os especialistas afirmam que há vários sinais de que uma pessoa vai enfrentar um problema financeiro. “Tem gente que se engana. Já ouvi clientes dizendo que gastaram muito em determinado mês porque tiveram um acidente de carro. Isso acontece, claro. Mas é por isso que é fundamental ter seguro e plano de saúde. Também já ouvi a justificativa: tive um imprevisto, o IPVA (Imposto de Propriedade de Veículos Automotores). Ora, todos sabemos que IPVA não é imprevisto. Então, o primeiro passo é parar de se enganar e assumir que você está descontrolado”, garante Police.
Rytenband completa: “é preciso saber identificar problemas e comportamentos de risco. Uma pessoa estourada no cheque especial, pagando 10% de juros ao mês, e que tem dinheiro na poupança - mas não o usa para quitar essa dívida - tem dificuldades para identificar comportamentos de risco. É comum a pessoa alegar que não quer mexer na poupança, “pois aquele é o único dinheiro que ela tem”, mas manter um investimento que rende 0,5% ao mês e continuar pagando 10% de juros certamente vai levá-la à falência”.
Mas, para o planejador financeiro da Police Consultoria, o sinal mais claro de um provável problema é o aumento no nível de endividamento. “É fácil perceber. Uma pessoa que não pegava dinheiro no banco e que, de repente, começa a entrar no cheque especial, passa a considerar o limite do cheque parte do salário. Quem vez ou outra pega um empréstimo no caixa eletrônico e depois começa a pegar um empréstimo para pagar outro vai enfrentar sérios problemas. A mesma coisa com o cartão de crédito: primeiro a pessoa compra no cartão e paga a fatura. Depois começa a parcelar as compras no cartão, aí para de pagar o total da fatura, em seguida começa a parcelar itens como supermercado no cartão e, por fim, pega empréstimo para pagar o cartão. É um caminho longo com sinais que podem ser percebidos se a pessoa estiver atenta às mudanças no seu comportamento”.
De fato, Cristina admite que faltou atenção aos seus gastos e comportamentos. “Foi preciso levar um grande choque para perceber que eu estava descontrolada. Percebi que gastava muito dinheiro com mimos para os meus filhos, sempre usando a desculpa de que eles mereciam tudo de melhor. Realmente merecem, mas já entendi que tenho que dar a eles o que meu orçamento permite. Mesmo tendo essa consciência é difícil controlar. Meu marido está me ajudando para que eu não cometa os mesmos erros. Felizmente, eu pude contar com o dinheiro que ele poupava para pagar as dívidas, senão eu ainda estaria pegando empréstimos, fazendo novas dívidas, tanto para tentar quitar o que estava devendo, quanto para consumir ainda mais”.
Valter elogia a atitude de Cristina. “A família precisa estar perto nesse momento. Aliás, eu defendo que o orçamento deve ser feito e avaliado por todos da família. Não adianta um se controlar e os outros gastarem demais. Manter os gastos dentro de um limite deve ser um compromisso de toda a família”.
O motivo que levou Cristina a se endividar é o mesmo que leva muitas pessoas aos problemas financeiros: comprar por achar que merece.
“Todo mundo, quando vai comprar algo mais caro, usa essa afirmação: eu mereço, trabalho tanto. Provavelmente mereça mesmo, mas esses agrados podem trazer uma grande dor de cabeça. A verdade é que quem não atingiu a independência financeira não deveria se dar ao luxo de ter algumas coisas. Carrão e casa de praia não são sinônimo de uma boa situação financeira. Ao contrário, são bens que trazem despesas e podem comprometer muito o orçamento de uma pessoa. É preciso ter cuidado ao proferir a frase ‘eu mereço’”, alerta Richard Rytenband.
Independência financeira O economista explica que, para evitar definitivamente os problemas, o caminho é óbvio: atingir a independência financeira (conseguir que os lucros - gerados por bens e investimentos - paguem todas as despesas mensais), para que a pessoa não precise de fontes externas de renda, nem mesmo do salário.
“Sei que isso não é fácil, mas é possível. O problema é que a mentalidade das pessoas está errada. Por exemplo, as pessoas não têm que poupar com o objetivo de ter uma reserva para a aposentadoria, o ideal é adotar hábitos que levem a conquistar a independência financeira antes, para ter rendimentos durante a aposentadoria. Mas, para conseguir isso, é preciso ter investimentos e uma sobra constante. É fato: só vai se dar bem quem gasta menos do que ganha”, afirma o professor, que completa: “e também é importante saber que não é possível conquistar esse patamar apenas poupando. Para conseguir isso é preciso investir, já que a poupança apenas evita que o dinheiro perca seu poder de compra”, aconselha Rytenband.
Teste rápido Richard Rytenband elaborou um teste para você identificar se é candidato a problemas financeiros. Se você identificar, em seu comportamento, pelo menos três atitudes das cinco descritas a seguir, pode enfrentar dificuldades se não alterar rapidamente sua forma de agir.
1 - Gasta tudo que tem ou mais do que tem.
2 – Tem qualquer forma de dívida, principalmente cartão de crédito e cheque especial.
3 - Não tem o hábito de investir.
4 - Não é “útil” para a sociedade: sem utilidade social, se a pessoa ficar desempregada, não consegue se reposicionar. Sem ganhos, não há como atingir a independência financeira. É fundamental investir em si próprio para se tornar útil.
5 – Não tem consciência de que o dinheiro perde valor ao longo dos anos – sem essa consciência, a pessoa deixa o dinheiro em investimentos muito conservadores, que não trazem lucro.
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